sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Itapoá...cheguei tarde pra caramba!! 16/11/2011 a 18/11/2011

16/11
Quem leu o tópico “Propósito”, onde conto o que pretendo fazer e como, sabe que consegui um celular usado de um amigo e que esse celular tem acesso a Internet. Essa estava sendo uma ferramenta de grande valia nesta minha viagem. Mas como nem tudo é perfeito e imprevistos acontecem... eis que surge mais um: a bateria do meu novo celular não costuma durar muito, ainda mais tirando fotos e fazendo vídeos como estou fazendo. Adivinhem então o que aconteceu? Nem precisa dizer né!
Bom, a sorte é que, já sabendo disso, trouxe comigo o meu ‘tijorola”que sempre tenho a tiracolo e que agüenta qualquer tranco. A única coisa que ele não faz é ligação quando não tem área. E adivinhem outra vez... É não tinha a bendita área!
Mas tudo bem! Como diz aquele “velho deitado”... ahhh “Ditado”...rsss (Quem tem boca vai a Roma) Até porque dizem que a comida lá é muito boa. Então lá fui eu, não á Roma, mas sim fazer valer o DITO POPULAR. Pedalei até encontrar um posto de combustível na beira da rodovia e lá perguntei como fazia para chegar a Itapoá.
O frentista me informou que era só seguir pela BR-101 por mais uns 4 km e eu já veria uma entrada a direita com a placa de indicação para a cidade.
Confiei então na informação dada por ele e no velocímetro da bike. Pedalei exatamente por mais 4 km na 101, olhei para cima e pude ver a placa indicando o sentido para Itapoá. Ótimo, estava no caminho certo! 

As faixas recém pintadas na pista, à falta de placas de sinalização e as poucas casas que via, me fizeram acreditar que aquela era uma rodovia nova. Mas até aí tudo bem. A própria cidade de Itapoá é uma cidade muito recente. Mas para ter certeza que estava mesmo no caminho certo, assim que vi um morador em frente a uma das poucas casas ao longo da estrada, fui confirmar a informação dada pelo frentista. --- Sim! - disse o senhor de meia idade.  --- Esta rodovia vai sim a Itapoá.
Agora mais tranqüilo, pude seguir meu caminho. Durante o trajeto percebi que praticamente não passavam carros por mim, somente um fluxo constante de caminhões containers. Eu sabia através da Ori que em Itapoá havia sido inaugurado um porto que era muito grande, então não dei muita importância ao fato.
Apesar do meu “tijorola” estar fora de área eu sabia que podia contar com ele para tornar a viagem mais curta, pelo menos essa é a impressão que tinha quando ouvia a rádio pelos fones enquanto pedalava. Também podia contar com ele para outra coisa: Saber as horas. E isso era algo que realmente começava a me preocupar... Quando falei com a Ori há algumas horas atrás, chutei que chegaria lá perto das 21:00 hrs, já que teria que fazer esse contorno pela BR- 101. 
  

Acontece que já eram quase 20:00 hrs, começava a escurecer e eu ainda não havia visto nem uma placa se quer naquela rodovia e a última casa pela qual passei, tinha ficado para trás a uns bons kilômetros.
Anoiteceu de vez. Só aí me dei conta de que além de não ter sinalização, nessa altura nem mais faixas demarcando a pista tinha, a rodovia também não tinha iluminação e pra piorar as coisas, de repente, o asfalto simplesmente acaba.
Aí o “bicho pegou”, pensei que fosse só um trecho, mas não. O que fazer agora, voltar? Não. Até porque segundo o velocímetro eu já estava quase lá. Faltava pouco para os 50 km. Em meio a toda aquela escuridão o que me salvava era o farolzinho da magrela, uma espécie de lanterna que permite ser tirada do suporte. Só assim eu podia ver a kilômetragem percorrida no velocímetro que fica preso no guidão. 

O fluxo do trânsito diminuiu muito. Agora eram poucos caminhões que passavam por mim e bem mais lentos, pois com todo aquele peso dos containers e a chuva dos dias atrás a estrada de chão estava cheia de buracos, isso quando não apareciam trechos com muita lama. Tentei diversas vezes parar um daqueles caminhões, que era o único meio de obter alguma informação por alí. Mas acho que todos os motoristas eram assombrados pelo mesmo medo que eu naquela horrível estrada escura... O medo de ser assaltado!

Enfim, após várias tentativas e uns bons kilômetros à frente, finalmente pude chamar a atenção de um caminhoneiro e fazê-lo parar... foi só me deitar no meio da rua na frente do caminhão (brincadeira) mas já estava quase pensando em fazer isso. Mas tudo bem. Consegui pará-lo. Já se passavam das nove da noite, nessa altura da situação eu não tinha mais certeza de nada, nem se estava realmente no caminho certo e fiquei morrendo de medo que ele me confirmasse essa minha dúvida.
Ainda bem que o caminhoneiro me deu uma notícia boa... quer dizer, nem tanto. Eu estava no caminho certo, mas ainda bem longe da cidade. Quase 25 km.

Como assim? Eu tinha mapeado 50 km pelo Google Maps antes da bateria do outro celular acabar. E eu já tinha percorrido essa distância. Como agora ainda faltava tanto até Itapoá?
Não importa, o que eu não podia era ficar ali parado. O problema é que com todos aqueles buracos a velocidade média que eu estava fazendo segundo o velocímetro era entre 6 e 8 kilômetros por hora e nesse ritmo demoraria cerca de três horas para chegar, se é que essa distância realmente estava correta, ao menos tive certeza de que o caminho estava certo!
Então, como aquela situação era inevitável, comecei a me acostumar com a idéia de pedalar naquela escuridão toda. Eu estava muito cansado, com sede, minha água já tinha acabado fazia algumas horas e de repente surge uma serra, não era das grandes, mas que com certeza iria atrasar mais ainda minha chegada. Em alguns momentos precisei de pequenas paradas para recuperar as forças. Certas vezes cheguei a desligar o farolzinho da bike e ficar contemplando as estrelas daquela noite linda. Isso me ajudava a recuperar também a fé. Atentas a tudo, via que algumas corujas brancas me observavam. Eu acredito que como criador, Deus está em tudo. E gosto de pensar que, como criador, ele também pode nos ver através dos olhos de todas as suas criaturas. Isso me tranqüilizava e trazia paz. Então deixei o medo para trás, já tinha muita bagagem para carregar.
Mas a aventura daquele dia ainda não tinha chegado ao fim. Em uma das subidas, não tão íngreme, achei estranho um barulho na bike que, até antes, não tinha ouvido. Parei, tirei a lanterna do suporte que a prende ao guidão para ver melhor qual era o problema. Não quis acreditar quando vi. O bagageiro onde carrego o baú adaptado da moto (biz) estava preso apenas de um lado do quadro da bicicleta. Como os buracos na estrada eram muitos, o parafuso de um dos lados foi afrouxando com a trepidação até cair e agora estava ameaçando quebrar o bagageiro. Aí sim eu estaria “ferrado”. O baú pesava em torno de 15 kilos e não tinha como carregá-lo de outra forma. Para não acontecer o pior, resolvi continuar dali empurando a magrela.
 Quando cheguei ao alto da serra, vi um pátio iluminado cheio de containers. Fiquei aliviado, agora deveria estar perto. Olhei no meu tijorola para ver as horas e vi uma porção de ligações perdidas. Que maravilha, era a Ori tentando me ligar e graças a Deus eu agora estava em um lugar com cobertura de sinal. Vibrei de alegria, já que a bateria tijorala também já estava quase no fim e eu não tinha nenhuma idéia de onde a Ori morava, nunca tinha estado em Itapoá antes.
Retornei a ligação e do outro lado da linha ouço a exclamação:
--- Seu maluco! Onde você está?Tá todo mundo preocupado, tua noiva e teus pais já me ligaram várias vezes.
E eu respondi que estava no alto de uma serra em frente um pátio cheio de containers. Contei que estava com problema na bike e precisava saber como chegar na casa dela. Ela me mandou ficar ali esperando e disse que viria ao meu encontro.
Algum tempo se passou então vi os faróis de um carro se aproximando. Que alívio era ela!
A Ori desembarcou do carro e me deu aquele abraço de irmã preocupada e me chamou de doido. Ela não entendia porque eu havia pegado aquele caminho da “Serrinha”. Resumi para ela o que aconteceu, falei que me deram essa informação em um posto de combustível e ela disse que seria preferível ter vindo pela balsa, mesmo com aqueles 15 km de estrada de chão com muita lama do que ter feito esse caminho que fiz. Eu teria economizado 50 kilometros. Aff ! Dá pra acreditar? Mas o importante é que tinha chegado e fiquei feliz em vê-la.
Colocamos então o baú da bike no carro, para que eu pudesse pedalar sem o risco de quebrar o bagageiro e fui a seguindo até sua casa. Cerca de mais 5 kilômetros.
Chegamos ao mesmo tempo, nós e o Neri, o “namorido” da Ori. Ele tinha havia chegado da casa de seus parentes no Paraná.
Nossa, já eram 11:50 da noite. Eu estava exausto! Nunca pedalei tanto num só dia em toda a minha vida e o velocímetro podia confirmar isso. De Corupá a Itapoá eu havia feito 143 km.
Tomei um banho caprichado, a janta já estava me esperando. Aliás, desde as sete da noite. Uma sopa daquelas, super reforçada... Uma delícia! Conversamos ainda um pouco e fui para a cama. Estava mesmo precisando (=_=) ... z z z

Ufa, ainda bem que minha amiga Ori veio me socorrer...hehehehehe
Fica aqui meu imenso agradecimento para meu casal de amigos Ori e Nerí que foram tão hospitaleiros. Mais um muito obrigado, pela tradução do meu Apelo para a língua alemã que gentilmente minha amiga Ori redigiu!



17/11
Acordei cedo, mesmo depois da canseira da noite passada. Aproveitei o dia de sol e saí para conhecer e registrar um pouco daqui. 
 
Deixo algumas imagens deste belo lugar no litoral de Santa Catarina "Itapoá":


Itapoá é uma cidade relativamente jovem, com apenas 22 anos. Tornou-se município no dia 26 de abril de 1989, até antes pertencia ao município de Garuva. É a cidade litorânea mais ao norte de Santa Catarina e apesar das pouca idade, vem se desenvolvendo muito rapidamente. Fiquei impressionado com a modernidade e tamanho do porto que começou a funcionar a pouco mais de meio ano. Tirei algumas fotos e também fiz um vídeo falando sobre o local. 

O Nerí e a Ori me deram algumas sugestões de outros lugares legais para mostrar a vocês que me acompanham aqui no blog. Um deles foi à reserva do patrimônio natural situada no município.
Na verdade é uma propriedade particular. Conhecida na região como fazenda do Machado. Pedalei então até lá e o que me chamou muito a atenção logo de cara, foi uma enorme oca que havia bem na entrada da reserva.

Olha só que grande a Oca, eu tava fazendo a "Dança da Butuca"...hehehehehe

Fiquei curioso e para saber mais, fui procurar esse apaixonado pela natureza que transformou sua fazenda em uma reserva. Tive a sorte e o prazer de encontrá-lo e poder conversar com ele no escritório da pequena indústria de palmitos em conserva que também há na fazenda. O senhor Natanoel Machado transparece a serenidade do lugar que escolheu para viver, simples e muito gentil, além de me falar sobre a história da reserva, também me ajudou comprando um adesivo e quis saber detalhes da nossa história. O que a minha noiva achava de tudo o que eu estava fazendo e como eu pretendia fazer para chegar ao Rio de Janeiro e falar com a produção do Caldeirão do Huck para pedir a nossa festa de casamento.
 
Obrigado pela ajuda Sr. Machado das conservas Lehman!

Bem, mais voltando a falar da reserva, o lugar é um verdadeiro paraíso verde onde 1.000 hectares de mata atlântica estão preservadas e protegidas pela Criação da RPPN-Reserva Volta Velha em 1992. É uma Unidade de Conservação, selecionada pela UNESCO/Programa MaB " O homem e a natureza", como uma das áreas Piloto da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica" no estado. 

O Sr. Machado me contou que a reserva ainda funciona como Centro de Educação ao Ar Livre, onde famílias, grupos de estudantes ou qualquer um que tenha interesse pode ter um contato maior com a natureza e a cultura  indígena através de palestras, caminhadas por trilhas, passeios de canoa pelo rio Saí Mirim, visita a oca xinguana construída pelos índios Waurá do Alto Xingu, além dos sambaquis e uma casa de vidro construída no meio da mata onde os visitantes podem também observar a vida noturna dos animais. 

Rio Saí Mirim:

Enquanto ele me contava detalhes sobre a reserva, o que não me saia da mente eram as seguintes perguntas: Como e porque havia sido construída uma oca naquele lugar e que tem a ver uma reserva da Mata Atlântica no estado de Santa Catarina com os índios do Alto Xingu?
Se me recordo bem das aulas de história, o Alto Xingu fica no estado do Mato Grosso e os índios que habitam aquela região não tem ligação com os índios daqui.
Fui obrigado então a perguntar e para minha surpresa, descobri que aquela oca é na verdade como um símbolo de uma história de amor. E eu não poderia deixar de mencioná-la aqui:
Ana Maria Machado, a filha do Sr. Natanoel herdou do pai a paixão pela natureza e também pela cultura indígena. Esse foi um dos motivos que levou a assistente social a constituir uma participação em um empreendimento no Centro-oeste do País. Era a pousada indígena que se tornaria a ponte através da qual ela conheceria o amor de sua vida e seu futuro marido, o índio Yawaritsawa. O jovem Yawa como é conhecido em sua tribo nasceu em uma aldeia no Alto Xingu, norte do Mato Grosso. Certo dia caçava, pescava em sua aldeia quando um grupo de empresários do ecoturismo procurava algum nativo para ajudar a levar turistas para a mata. Era “o cara”: entre todos os jovens da tribo, era ele quem mais tinha contato com a língua portuguesa. Foi então trabalhar na pousada como guia de expedições. Dois anos depois, foi convidado para fazer um curso de hotelaria em um centro de ecoturismo de Santa Catarina, quando conheceu Ana e os dois se apaixonaram.
Yawa voltou para o Xingu, mas dois anos depois veio de “mala e cocar” para ficar com Ana em Itapoá. A pousada indígena no Mato Grosso não deu certo, mas foi o elo que uniu o casal. Em 2003, na primeira visita da família de Yawaritsawa na reserva, eles prepararam um presente para a família Machado. Construíram uma oca de madeira pindaíba, amarrada com cipó-de-imbé e cobertura de palha do banhado. Assim, o filho não ficaria tão afastado das raízes e ela poderia ser usada para as festas típicas. É lá dentro que acontecem jantares para aproximar turistas e estudantes da cultura indígena.
Infelizmente não tive a oportunidade de conhecer o casal que hoje é responsável pela reserva junto com o pai e sogro. O índio Yawa vive hoje em Itapoá, onde é professor da cultura indígena e administra, juntamente com Ana e seu pai Natanoel, a reserva.
O que posso dizer é que foi um privilégio ter conhecido o Sr. Machado e ter me deparado com estas histórias de amor: O amor deles pela natureza e pela cultura indígena. Ao me despedir do Sr. Machado, ele me desejou muita sorte, disse que ficaria torcendo para que o Luciano Huck se sensibilize com nossa história e possa nos ajudar. No final de nossa conversa me disse que a maior herança que pretende deixar para os netos e bisnetos é o amor pela natureza e a convivência com ela. – Quero que eles possam ver o que eu vejo hoje!
A Reserva Volta Velha conta com infra-estrutura de hospedagem e refeitório. Uma excelente opção para passar um fim de semana diferente com a família ou com os amigos e conhecer um pouco mais sobre a cultura e as riquezas desse nosso imenso Brasil.

No caminho para a reserva fiz uma rápida visita ao Jockey Club Raia das Palmeiras...

Conheci o Jokey Club de Itapoá...

E o mascote do Clube também...rs "Até mais meu amiguinho!"
 
Por volta das 16:00 hr saí registrando algumas das belas paisagens dos 32 km de praia que a cidade tem e decidi continuar a viagem no próximo dia, já que no dia anterior me passei nas pedaladas e estava morrendo de cansaço. No final da tarde o tempo novamente mudou e voltou a chover. Tinha que torcer para que fosse apenas mais uma chuva de verão, afinal, ainda não estava completamente recuperado da gripe.


Quero agradecer a todo o pessoal de Itapoá que me adicionou em massa no facebook, gente muito obrigado de coração!

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