terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Dormindo com as galinhas em Vargem Grande - 17/12/2011

Acordei ainda em Santa Cruz e, depois de tomar café na mesma padaria, fui a uma Lan house, onde fiquei ainda por um bom tempo até porque precisava tentar conseguir alguns contatos no PROJAC e fiquei pesquisando na net. Almocei ainda no bairro e a tarde segui em frente rumo a Jacarepaguá.

Rio 2014. Muitas obras...

No caminho, quando descia o morro da ilha, a poucos kilômetros do PROJAC, mais um pneu furado. O nono do caminho!

Parei pra fazer o remendo num posto de gasolina perto dali, o posto Forza que fica na descida da serra de Santa Cruz. Mais uma vez, foi por causa de arame de pneu de caminhão. Tinha muito pelos acostamentos!
Ali mesmo em frente ao posto, abordei algumas pessoas, para saber se havia alguma igreja nas proximidades. Já que estava escurecendo e eu precisava achar um lugar para dormir.
Um casal me indicou uma igreja evangélica, não muito longe dali.
Pedalei pela Estrada dos Bandeirantes e cheguei já à noite numa Igreja da Assembléia de Deus, que ficava em uma das comunidades de Vargem Grande.
Entrei no pátio para esperar o culto acabar e falar com o pastor. Nisto, um fiel, me convidou para entrar e assistir o culto com eles, mas eu estava todo suado e preferi esperar do lado de fora. Ele insistiu e eu acabei entrando, depois de tirar o capacete e me lavar no banheiro.
Terminado o culto, procurei o pastor. Contei toda a história e pedi abrigo. Mas ele disse que não poderia me deixar dormir ali, pois se algo acontecesse comigo ou com as dependências da igreja, ele teria que se responsabilizar e esta era uma decisão que não dependia somente dele, mas também da direção da igreja e no dia, alguns membros não estavam lá. Mesmo assim me ofereceram comida, havia um encontro de casais. Já era tarde e eu não tinha nem noção de onde iria dormir. Eu estava na rua em frente à igreja junto com alguns fiéis que tentavam me ajudar, pensando em algum lugar onde eu pudesse pedir abrigo.
De repente enquanto conversávamos, vi um homem chegar caminhando e um dos fiéis falou: 
     Você pode dormir na casa dele!
Apontando para o homem que tinha acabado de chegar. Olhei para o lado e vi que o cidadão estava mais pra lá do que pra cá. Mal se segurava em pé!
     Você tem certeza? Respondi para o fiel, sem que o homem me ouvisse!
E ele disse: 
    Sim! Ele toma as cachaças dele, mas é gente boa. Pode confiar, todo mundo conhece ele aqui na comunidade!
O rapaz falou com o cidadão, que disse que não tinha problema. Que eu poderia dormir aquela noite em sua casa!
Pensei comigo... Então tá! Eu estava no meio do caminho para o PROJAC e também não queria pedalar a noite pelas ruas desconhecidas.
Aceitei e fui empurrando a bicicleta ao lado do homem que cambaleava. Perguntei o seu nome... Uma, duas vezes, mas não consegui entender. Não quis perguntar uma terceira vez.
À medida que íamos comunidade adentro, todos me olhavam curiosos. As crianças brincando nas ruas durante a noite diziam: 
     Olha só que maneira a bike do tio aí!
Confesso que fiquei meio assustado, porque não conhecia a comunidade nem sabia quanto iríamos andar até chegar a casa dele. Enquanto caminhávamos, ouvi algumas pessoas me chamando de gringo!
Gringo eu? Ah fala sério!
Chegamos a casa dele! Era um sobradinho onde viviam várias famílias. Cada família ou morador ocupava um ambiente de apenas dois cômodos, pelo que pude ver.  Era apenas um banheiro e o cômodo principal, que cada um dividia como queria!
A porta, da casa do meu amigo alegre, era uma chapa de madeirite, que ficava apenas escorada na entrada. Ele me convidou para entrar, tudo estava escuro. Procurei o interruptor de luz e meu novo amigo disse: 
    Não tem luz não. Tá queimada!
Ele colocou um colchonete do lado de outro colchão que já estava no chão. Deitou-se e disse: 
     Pode deitar aí!
Eu tinha que agradecer por ter encontrado uma pessoa boa que me ofereceu abrigo. Mas sinceramente fiquei pensando: E se esse cara passar mal durante a noite?
Era um risco que eu teria que correr. Só pra garantir pensei em afastar um pouco mais o colchonete.
Pedi a ele se podia colocar a bicicleta para dentro. Ele disse que sim! Enquanto eu arrumava a bike dentro da casa, uma mulher que passava no corredor me perguntou um tanto alterada: 
     O que você tá fazendo aí?
Logo imaginei que ela não tinha visto seu vizinho ali deitado e pensou que eu estivesse mexendo nas coisas dele! Expliquei a ela que eu estava vindo de Santa Catarina de bicicleta e que seu vizinho me ofereceu a casa dele para passar a noite!
Para minha surpresa ela respondeu: 
     Você vai dormir aí com o bêbado?
Tomei um choque com a reação dela! E respondi novamente: 
     Olha, eu estava sem ter onde dormir e ele me ofereceu a sua casa!
E ela voltou a indagar: 
     Mas você vai dormir aí com o bêbado?
Eu fiz sinal com as mãos, dizendo "Qual é o problema?"
E ela respondeu: 
     Faz isso não. Pegue esse colchonete aí que é de minha filha, fui eu que dei pra ele, e vá dormir lá em cima que tem um quarto vago!
Fiquei constrangido com a situação. Pois mesmo sabendo do estado do cara, o fato é que ele tinha um bom coração e se propôs a me ajudar!
De repente, meu amigo, sem se levantar de sua cama diz: 
     Se quiser dormir lá em cima, tudo bem!
Agora sim, foi ele quem me deu a opção da escolha!
Peguei o colchonete e a bicicleta e subi pela escadinha super estreita. Logo vi o quarto vago, com a luz acesa e a porta aberta. Bom, ao menos esse tinha porta. Tudo bem, depois fui descobrir que ela não tinha tranca e que tive que escorá-la com uma lata de entulho pra não deixar as outras inquilinas voltarem. Que inquilinas? Esqueci de dizer... havia galinhas dentro do quarto!
Mas na boa, depois de um papo reto com elas, me deixaram ficar com o quarto. PS.: Naquela noite!
Ainda bem que eu ainda tinha aquela capa de lençol que comprei na Casa China em Vicente de Carvalho há alguns dias atrás. Não tinha interruptor no lugar e a luz ficava acesa direto. O que fazia ter muitos mosquitos. Então usei a capa de colchão como saco de dormir pra me proteger dos bichinhos e tentar descansar! 

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